domingo, 3 de abril de 2011

Fukushima, o Brasil e a energia nuclear

Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Publicado em 31/3/2011
No mundo inteiro, um bilhão de pessoas dependem da energia elétrica gerada por usinas nucleares. Justamente por isso, a sociedade moderna não pode abrir mão do que é produzido nos reatores. É com afirmações como essa que o físico Aquilino Senra, professor do programa de Pós-Graduação em Energia Nuclear do COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia), órgão vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pretende fomentar as discussões a respeito dos rumos que a implantação de usinas atômicas e a geração de energia radioativa devem tomar depois do acidente que abalou a cidade de Fukushima, no Japão, no último dia 11 de março.
Primeiro foi um terremoto de 8,9 graus na escala Richter, depois veio um tsunami que varreu cidades inteiras. E quando os japoneses começavam a contabilizar as perdas – já são cerca de 10 mil mortos e aproximadamente 20 mil desaparecidos – o alerta amarelo do vazamento radioativo acendeu. O reator da usina nuclear de Fukushima estava esquentando e não podia ser resfriado pelos geradores de emergência. Movidos a óleo diesel e acionados quando falta energia, os equipamentos não puderam funcionar porque o combustível fora levado pelas águas da onda gigante. Funcionando sem controle, o reator começou a se desfazer e a liberar radioatividade que – em grandes quantidades – pode contaminar a água, o solo, o ar, chegar aos seres vivos e provocar doenças.
Casas num raio de vinte quilômetros no entorno da usina foram evacuadas, e, de acordo com o especialista em energia nuclear da COPPE, outras consequências também já foram registradas: a morte de um funcionário da usina – por acidente e não por contaminação radioativa –, cerca de 20 intoxicações com graus não divulgados e, na última quinta-feira, três outros funcionários sofreram queimaduras. A percepção da população mundial é que a energia nuclear, mais uma vez, representa uma ameaça para a humanidade. O Japão ainda guarda na memória a tragédia das bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945; voltam à tona da opinião pública mundial também os acontecimentos relacionados ao acidente de Chernobyl, na antiga União Soviética, em 1986.
Por outro lado, especialistas tentam convencer o mundo de que a energia que vem dos reatores tem aplicações benéficas e geração limpa. Tanto assim que o Brasil, que já tem duas usinas nucleares – Angra I e Angra II –, aprovou a construção da terceira usina, dessa vez concebida e desenvolvida por cientistas, tecnólogos e engenheiros alemães, uma decisão polêmica, principalmente nos tempos atuais.